True.

True.
Love.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Conto da Noite ao dia l

DELÍRIO Ao passar entre as Roseiras, noite de lua, teus cabelos perderam-se no emaranhado de pétalas rubras. Observei escondido pelo vidro, embaçado pela fumaça errante do velho cigarro, sua delicada mão se estender e tocar suavemente os galhos espinhosos banhados pelo gélido iluminar lunar. E, de repente, um gesto brusco e uma gota escarlate caiu eternamente, como num mergulho, sobre o azulejo do quintal. A dor estampou-se em seus olhos e do meu refúgio assisti a bela cena que você proporcionou. Folhas, galhos, pétalas e botões caiam ante seus furiosos golpes. E no fim, todos satisfeitos, uma calmaria abateu-se sobre o Jardim. Tu estavas calada e tuas lágrimas misturavam-se ao sangue que brotava dos teus braços lacerados. A roseira ressentia-se e prometeu jamais tentar afagar os teus cabelos novamente. E eu continuei a observar os movimentos etéreos da fumaça na janela, esperando a vingança das rosas. CENA 2: Mudo, ao alvorecer, fui ao quintal. A tempestade havia deixado seu rastro calamitoso no rosal. Pensei em recolher os restos e jogá-los a esmo na terra, mas uma rajada pulsante antecipou-me e o chão limpo me convidou a deitar e ficar ali, a manhã inteira, olhando o céu e contando as nuvens, para recompor meus sonhos e voltar ao trabalho. Por duas horas confidenciei mentalmente os meus temores ao solo e quando me levantei, vi o remorso transformar-se em amor. Você vinha esbaforida e urgente, colher uma rosa para o seu altar. E havia uma, pendente como uma perna quebrada, a te esperar ansiosa por um copo de água fresca. Você a pegou, encostou-a ao lábio e num ato mágico, ela se abriu. Teu beijo é a fonte que refresca as flores. Agradeço um destes para aliviar a minha alma esfumaçada. Olhei para o Sol, abri os braços e acordei . . . São 10h e ainda não sei quem sou.