Uma ponte de vícios me leva ao fundo do poço que eu já conheço.
E andando nela, eu sinto como se o tempo
Marcasse a data do encontro, me julgando como um que vai passar e não deixar rastro de sombra.
Será que isso acontece no fundo de cada um, como uma mostra de que, verdadeiramente, somos todos iguais, em tamanho, cor e credo?
Ou é só um jeito de dizer prá continuarmos, pois disso somos feitos: caminhos.
E se você pára, abaixo, só há o rio.
Negro e caudaloso como um espelho embaçado de banheiro, que te encontra quando adentras a porta e te assusta os olhos ao ver teus olhos assustados...
Há a sombra do sol, sim.
Porque eternidade só é entendida por aquilo que é realmente eterno.
Nada de amores, pois o peso impede uma corrida necessária, alguns livros e a semente que, se jogada à terra boa, há de germinar.
E enquanto caminho, penso nele, no tal do Amor, como um objetivo simples, cama quente em noite de cansaço, em que se espreme o homem, para que brote a seiva de outros.
E dessa seiva, novos escravos, ávidos pela novidade de grilhões dourados,
de orgulho e autocomiseração.
A paz é o amor calmo, daqueles que te fazem crer que nos livros
Há mais verdade que as que você conta e que, no escuro, há mais espírito que em nós.
O passo hesita, recua,
Na treva de si mesmo, trôpego, inábil, duro.
Tateando sempre, cego por manter os olhos híspidos, tão espertos,
Tão experientes no enxergar o óbvio, abertos.
Na busca por aquilo que mora dentro de nós...
Nas escuras sendas
O mal se alimenta
Daquilo que a mente, faminta,
Regateia e vende pelo preço de um ouro raro, pedra de luz.
Ainda assim,
Planto nos solos tantas ilusões,
Rego com o sal da terra
E o punhado de lágrimas,
Avessas à razão, que farão falta
(Posto que chorar já não consigo)
Soltas assim tão cedo frente àquelas
Que teremos todos que derramar,
E que não haverá como recuperar,
Pois do que somos
É só o chorume que vai ficar
Quando você parar
Na entrada dos teus sonhos
De paraíso.
E lá, no profundo tédio de descobrir
Semelhanças,
Vai se arrepender de ser tão
Lento.