True.

True.
Love.

domingo, setembro 18, 2011

Fedra in C

Ainda que sejamos paródias de amores impossíveis,
Ainda que estejamos todos perdidos fingindo olhar o mapa,
Ainda que valha a pena chorar em vão,
Nada mais se realiza sob a luz da imaginação.
Somos curtidores, voyeurs de vidas que não vivemos:
Imaginário coletivo de solidão,
No meio do mar que se expande
Ao redor de ilhas habitadas
Por medo, por dor.
Somos idas e vindas, logramos partidas de portos
Inaugurados no meio da tormenta.
Somos os amantes inativos, os aparadores de mágoas
Que não sabemos curar.
Somos a família perfeita:
A mulher se deita e dorme para esquecer o dia,
O homem deita para não se render à noite
E a criança, frutificada, apenas sonha
Com os olhos no teto
Com o dia em que, ao virar-se, não haja mais ninguém por perto.
Emaranhados em nosso torpor, nos afogamos, eróticos e
Incompletos, no conto de fadas de realizar
Gozos soberbos, inigualáveis.
Não, eu sei que não e você sabe também,
O momento é tão fugaz quanto o piscar de olhos
Que te traz até esta outra palavra:
Rápido.
O tempo esvaindo-se arrasta
Essa esperança, pois nos próximos dias
Virá uma salvação sem rosto
Contando nos dedos
Quem pode ficar de guarda
Enquanto dormimos ao relento
De nossa própria ilusão.

domingo, setembro 04, 2011

Onde a risada se perde?

Não acompanhar
A volatilidade do vento
Que ventava na estrada.
Não abandonar
O medo que te trava
Na beira do nada.
Não ser a palavra
Moldada na fraca morada
Onde mora o silêncio.
Não aturdir o amor
Com a estaca que se crava
Na luta dessa vidarada.
Não deglutir o pavor
Na casa assombrada
Onde não mora o sonhador.
Não amparar a boca
Na boca da profana
Cigana que me cala.
Não destruir a cela
Onde mora a víbora amarela
Que não rejeita envenená-la.
Não falar demais
Pelas ruelas de terra
Onde a pausa se encerra.
Não ser eu e ninguém
Perceber bem tarde
E gritar em alarde
Que sou eu que calo ou
Sou quem diz o verbo
Quando a voz se esvai
Num esforço soberbo
De avisar ao deus longínquo
Que o fim há de chegar.