Ainda que estejamos todos perdidos fingindo olhar o mapa,
Ainda que valha a pena chorar em vão,
Nada mais se realiza sob a luz da imaginação.
Somos curtidores, voyeurs de vidas que não vivemos:
Imaginário coletivo de solidão,
No meio do mar que se expande
Ao redor de ilhas habitadas
Por medo, por dor.
Somos idas e vindas, logramos partidas de portos
Inaugurados no meio da tormenta.
Somos os amantes inativos, os aparadores de mágoas
Que não sabemos curar.
Somos a família perfeita:
A mulher se deita e dorme para esquecer o dia,
O homem deita para não se render à noite
E a criança, frutificada, apenas sonha
Com os olhos no teto
Com o dia em que, ao virar-se, não haja mais ninguém por perto.
Emaranhados em nosso torpor, nos afogamos, eróticos e
Incompletos, no conto de fadas de realizar
Gozos soberbos, inigualáveis.
Não, eu sei que não e você sabe também,
O momento é tão fugaz quanto o piscar de olhos
Que te traz até esta outra palavra:
Rápido.
O tempo esvaindo-se arrasta
Essa esperança, pois nos próximos dias
Virá uma salvação sem rosto
Contando nos dedos
Quem pode ficar de guarda
Enquanto dormimos ao relento
De nossa própria ilusão.