True.

True.
Love.

quinta-feira, julho 11, 2019

Sem ar


Semblantes marmóreos, ígneos
Habitam meus pensares e glosam meus saberes.
Avisto sempre, no horizonte, uma tempestade
Plúmbea, sinistra e sensual como o beijo da morte.
Bocas cospem labaredas, como notas de uma canção
Herege, soprada aos ventos pela voz da solidão.
E mãos de pedra e gelo me apertam os pulsos e a garganta,
Me fazendo entregar meus sentidos à agonia
De ter que ouvir meus pares, lê-los em maldade e desespero.
Não entendo mais as vozes, não vislumbro mais lógica
Em nossas buscas mesquinhas, nossos abraços medrosos,
Hesitantes demonstrações de carência orgulhosa,
Solidão disfarçada de empatia.
Semblantes me fitam, fantasmas ensimesmados,
Misturando indiferença e nojo, como se comessem num prato de ouro
 A mais pútrida refeição servida pelos lázaros políticos.
E a tempestade ribomba, distante, como numa saudação
Aos meus temores: “Veste teus pesados casacos e deixa a culpa nos bolsos,
Pois o rio é profundo e para morreres, hás de afundar mil metros
Longe de tudo. ”
E ela cai, como uma explosão, em meus sonhos. 
(Shadow)