há nesse mundo um deus que veste negro,
que esconde nas frestas e buracos
tanto fato, tanto segredo
que chega a dar medo quando
a gente anda pela rua
com os olhos nas costas,
acelerando a mente no passo louco da nossa corrida.
há gente e com eles, seus tantos sonhos,
corridos pelas paredes como tinta.
revistos, reescritos e re-sonhados,
na fantasia louca de que chegaremos a um ponto final.
há um segredo que é negro prá qualquer deus,
desses que andam na parte traseira de si mesmos,
tentando mudar de lugar, brigar com o irmão pelo lugar na janela.
e perdem a paisagem mutante
que pulsa nas telas dos nossos dias solitários.
há um animal preso em cada alma,
com os pés fixos em latas de cimento, desvencilhando-se
na fúria, pois a música continua a tocar sempre, mesmo quando
cada deus ou mesmo homem já esteja completamente surdo,
ouvindo, insistente e desconhecidamente, a sua própria voz.
e arrastando o peso de si mesmo, esquece que a mais livre ave
ainda permanece bela mesmo sem as asas
e que o melhor da vida
é voar na impossibilidade ou flutuar pela sanidade
para estacar, como um prego sob o jugo do martelo.
valha-me, que ainda hoje, amanhã chega e daí
que você ainda é o mesmo rosto na multidão?
Faz frio pelos lados da morte, sabe?
E ainda há deus,
companheiro de alcova,
prá te salvar de si mesmo
quando o cobertor virar pele
e o mendigo, andando nu,
estiver mais elegante que você.
(Shadow.)
07/06/09