True.

True.
Love.

quarta-feira, dezembro 28, 2011




Sorrateiro,
Como a sombra que orla a luz
Que vaza pela porta,
Teu sorriso chega à minha vista.
O sorriso,
Que tem por arredores
Teus olhos negros que ansiosos
Perscrutam pensamentos
Que minha boca dirime.
E num átimo,
Tudo se movimenta na tua máscara
De carnaval, ancestral feição
Que me persegue infalível
Nas brechas da rotina inefável.
E eu me sacio em teu cheiro lembrado,
Me afogo na torrente de lembrança
Que inunda, insensível
A lágrima que escorre, solúvel.
E amor é a única lei que inda me guia.
Mas
Fecho a porta. E sorrio
Do poema que escorre, frio
Da minha boca em silenciosa gargalhada.

domingo, dezembro 25, 2011

Dedalus.

Evidência é sentar-se à beira do abismo e cochilar, sossegadamente, ao som do vento que uiva...
O lobo da solidão espreitaria suas presas no tráfego vertiginoso
Ou aguardaria pacientemente a presa
Nos covis sombrios da quietude?
Ao meu coração:
Resta apenas
Bater frouxo.
E ainda que os lados dos mesmos quadrados
Escureçam
Cores infinitas,
Existe a possibilidade de ficarmos
De cabeça para baixo, contemplando a luz da Lua.
E avareza é guardar tanta loucura
Dentro do peito extenuado, cansado
Que implora:
“Hesite.”
E com os olhos em chamas
Assisti ao esplendor do ocaso
Perene.
Eu vi as gotas de sereno
Transmutarem-se
Em caleidoscópios incandescentes
Para abrigarem-se, brilhantes,
No meio da minha fronte
Serena.
E, em meio à luz,
Solene
A camélia que tanto cheira,
Cheia de mel e de incenso,
Alçou vôo pelo espaço
Que nos separa
Por tão iguais
Chorarmos escondidos
Na nossa própria paranóia.
E permaneço, sentado, esperando.
Esperando.
Esperando!
Esperançoso...
Esperando!
Esperando!
Respirando...
Respirando...
Girando.
Pirando.

domingo, setembro 18, 2011

Fedra in C

Ainda que sejamos paródias de amores impossíveis,
Ainda que estejamos todos perdidos fingindo olhar o mapa,
Ainda que valha a pena chorar em vão,
Nada mais se realiza sob a luz da imaginação.
Somos curtidores, voyeurs de vidas que não vivemos:
Imaginário coletivo de solidão,
No meio do mar que se expande
Ao redor de ilhas habitadas
Por medo, por dor.
Somos idas e vindas, logramos partidas de portos
Inaugurados no meio da tormenta.
Somos os amantes inativos, os aparadores de mágoas
Que não sabemos curar.
Somos a família perfeita:
A mulher se deita e dorme para esquecer o dia,
O homem deita para não se render à noite
E a criança, frutificada, apenas sonha
Com os olhos no teto
Com o dia em que, ao virar-se, não haja mais ninguém por perto.
Emaranhados em nosso torpor, nos afogamos, eróticos e
Incompletos, no conto de fadas de realizar
Gozos soberbos, inigualáveis.
Não, eu sei que não e você sabe também,
O momento é tão fugaz quanto o piscar de olhos
Que te traz até esta outra palavra:
Rápido.
O tempo esvaindo-se arrasta
Essa esperança, pois nos próximos dias
Virá uma salvação sem rosto
Contando nos dedos
Quem pode ficar de guarda
Enquanto dormimos ao relento
De nossa própria ilusão.

domingo, setembro 04, 2011

Onde a risada se perde?

Não acompanhar
A volatilidade do vento
Que ventava na estrada.
Não abandonar
O medo que te trava
Na beira do nada.
Não ser a palavra
Moldada na fraca morada
Onde mora o silêncio.
Não aturdir o amor
Com a estaca que se crava
Na luta dessa vidarada.
Não deglutir o pavor
Na casa assombrada
Onde não mora o sonhador.
Não amparar a boca
Na boca da profana
Cigana que me cala.
Não destruir a cela
Onde mora a víbora amarela
Que não rejeita envenená-la.
Não falar demais
Pelas ruelas de terra
Onde a pausa se encerra.
Não ser eu e ninguém
Perceber bem tarde
E gritar em alarde
Que sou eu que calo ou
Sou quem diz o verbo
Quando a voz se esvai
Num esforço soberbo
De avisar ao deus longínquo
Que o fim há de chegar.

sexta-feira, julho 22, 2011

Os passos.




Eu te mando minhas mensagens
Pelas luzes das cidade.
Só meus olhos sabem os olhos que
Não me vêem.

Em algum lugar
O mundo se aquieta e
O passo leve da saudade
Caminha pela casa
E ecoa sussurrante pelo ar.

Sorrisos, bocas vivas
Braços macios de mulheres de vento.
Não nego minhas dores,
Não prendo minhas mágoas
Acorrento-as a uma alegria
Que cavalga pelo espaço.

O teu carinho faz tanta falta
No meu peito, no meu som
Cadenciado num ritmo profundo
Sufocando o meu medo
Que era tão grande quanto o mundo.

Todo brilho que não se inflama em gritos
Nas noites impossíveis
Morre de um dos males infinitos:
O dom de ver os traços invisíveis
Em todos os sonhos mais bonitos.

quinta-feira, maio 26, 2011

Petalas petulas.

Angústia.

A saudade é uma dor etérea,

Mas ainda há o sonho impávido

De olhar de novo o caminho

Que me leva para você.

São passos lentos

Que me guiam pela rua

E vou desaparecendo

Pela sombra do desejo.

A dor é a canção sem rima

Como um monte ensolarado

Que se aquece na manhã

E aguarda a noite, anciã.

Nossos corpos como lanças

Eu, você e a paz aflita

Bailando pelo céu azul

Misturado a toda cor que é bonita.

A saudade é a sina

Tão cruel quanto maldita

Que nos prende ao chão

Enquanto a alma levita.

A solidão é uma pedra bruta

Que no talhe inda resiste

Mesmo que a tua ou minha carícia

Seja a mais doce que existe.

O amor é um medo constante

Um tremor que se expande

Rápido como uma ave de rapina

Que descansa quieta no ninho da rotina.

Seria eu saudade inflamada,

Ou talvez, dor lancinante.

No espelho, sou luminosa solidão

Que olha esperançoso o amor da liberdade.

[J.]