True.

True.
Love.

terça-feira, janeiro 24, 2017

Vocem interiorem, sad daemon

'Sentou-se à beira da vida e descascou alguns sonhos pervertidos, sob a sombra da árvore da loucura que são esses dias sulcados em intolerância e crueldade, nessa terra banhada de sangue negro, pobre, preto, feminino escurecido e masculino nas mentes, o que fazes tu detrás do desejo é o que te faz ser diferente de todos. A única salvação é a universalização da desgraça como ato contínuo, de espécie que devia preferir não procriar, pois o caldo entornou e de animais como nós nada se espera senão chafurdar, em júbilo ou desespero, isso depende da sina, nesse lamaçal de ilusão e máscaras. Do fruto que consomes, sois a casca apodrecida, envolvendo uma verdade íntima que te engana mais que a mentira de que somos solidários.
E nem mais no câncer, como disse o gênio, pois dependendo do teu acreditar, da tua origem, te desejarão sofrimentos maiores. Nós somos o povo embrutecido, vestidos de empáfia e vaidade, desfilando pelo vale da sombra da morte, orando para seres ocos nosso medo e nossa angústia. Somos os escolhidos pela força de nossa evolução que parece uma contradição quando a língua venenosa de todos nós secreta o néctar da maldade planejada, ensaiada enquanto as formigas morriam queimadas. Sorveu as almas que carregou, exauriu o oásis da iluminação que passou ao largo de quem fecha os olhos quando algo brilha.

Permaneceu sentado em sua tristeza, com as mãos laceradas e envoltas numa nódoa clara e mortal, que lhe fazia arder o espírito, vermelho-sangue de ausência e autocomiseração.

Chorou aos berros, na esperança de que quem ouvisse lhe desse alento e motivo para levantar e traçar rotas no emaranhado de caminhos que se dispõe ao trafegar dos vermes e dos inválidos, dos palhaços sem maquiagem e dos espectros noturnos de nossa criação.'

Um barulho tirou-me da contemplação e voltei à cadeira...

Dormi e entre os dentes, sangrou a língua dos sonhos.
Acordei com o lamento do dia.

Ao abrir a janela, deparei-me com a minha insensibilidade, que teimou em passar a noite ao relento, revendo suas notas sobre para onde estamos indo. Convidei a entrar, ela riu escarnecida, dizendo que estava ali dentro há muito tempo, pois se divide diuturnamente para me fazer enxergar a realidade através do véu de meus erros.

Lá fora, os desejos morrem. Estão fadados à vida curta, são os excrementos de nossa alma, expurgados como gritos de desespero.

Desejos são borboletas.
E não estátuas.


E travei cansativo diálogo com minha convidada onipresente, tomando-a como o deus que me falta, mas mais por prazer que outra coisa, pois vivo do abandono de crenças em cada esquina onde mora um assombro. E assombrado, anseio pela solidão mais profunda e escura. 


Aquela que dilacera convenções, que me remeterá ao estado primordial de tudo e todos: o mistério.

domingo, janeiro 01, 2017

Dia 1

Em cada silêncio, habita um diadema de mistérios,
Somos todos os passageiros da memória.
Nas trilhas de nossos vales e impérios,
A ânsia é sempre pela vitória.

Somos todos transeuntes da finitude,
Em cada parada, uma paixão.
Não respeitamos latitudes,
A liberdade é uma ilusão.

Atados aos nossos sonhos,
Afundamos tristemente
Num abismo profundo

E enquanto o ar se ausenta,
Vislumbramos solitários e serenos

O último brilhar da luz.