O último brilho.
(25/06/08)
Tudo entre esse mundo e o sol,
Está frio, perdido na névoa úmida
das lágrimas infelizes dos mendigos.
Toda a esperança da semente se fecha
na gota perolada de uma manhã que virá.
Tudo entre nós, meu fantasma, é a ausência.
Enquanto eu vago pelas frestas do concreto,
Ávido de calor, atômico, estático.
E faço de cobertor os viadutos imaginários,
Nossa via de ponta cabeça.
Me visto para a noite
Com a solidão dos prédios,
Com a manta das escadarias escuras,
Com as meias dos patamares aduncos,
Ilegais no sentido de quem sempre sobe.
E desço ao fundo de um mundo cinza,
Infesto de sorrisos soltos, e mãos.
Seres de pesadelo oferecem os seios,
Madonas de escuridão,
Embalando as crianças perdidas
Num berço de espinhos.
E eu posso blasfemar tranquilo,
Pois Deus sempre está ocupado demais.
Eu praguejo contra o homem,
Contra o libertário e o inquisidor,
Mesma moeda a seu tempo.
Cara ou coroa?
E eu desejo a morte de todos
Os nobres
Asfixiados em
Gravatas de ódio.
E Deus está tilintando na lata de cerveja
Amassada.
E Deus está assoviando para a puta cega
Que vende o sexo para os olhos que enxergam
E no dinheiro, estampa a sua face.
E na cidade, o anoitecer tem cara de morte.
(J.)