True.

True.
Love.

sábado, julho 04, 2009

Sereno como a noite solitária.

O último brilho.
(25/06/08)
Tudo entre esse mundo e o sol,
Está frio, perdido na névoa úmida
das lágrimas infelizes dos mendigos.
Toda a esperança da semente se fecha
na gota perolada de uma manhã que virá.
Tudo entre nós, meu fantasma, é a ausência.
Enquanto eu vago pelas frestas do concreto,
Ávido de calor, atômico, estático.
E faço de cobertor os viadutos imaginários,
Nossa via de ponta cabeça.
Me visto para a noite
Com a solidão dos prédios,
Com a manta das escadarias escuras,
Com as meias dos patamares aduncos,
Ilegais no sentido de quem sempre sobe.
E desço ao fundo de um mundo cinza,
Infesto de sorrisos soltos, e mãos.
Seres de pesadelo oferecem os seios,
Madonas de escuridão,
Embalando as crianças perdidas
Num berço de espinhos.
E eu posso blasfemar tranquilo,
Pois Deus sempre está ocupado demais.
Eu praguejo contra o homem,
Contra o libertário e o inquisidor,
Mesma moeda a seu tempo.
Cara ou coroa?
E eu desejo a morte de todos
Os nobres
Asfixiados em
Gravatas de ódio.
E Deus está tilintando na lata de cerveja
Amassada.
E Deus está assoviando para a puta cega
Que vende o sexo para os olhos que enxergam
E no dinheiro, estampa a sua face.
E na cidade, o anoitecer tem cara de morte.
(J.)

sexta-feira, julho 03, 2009

Reprise.Reprise.Reprise.Represe.

O Concílio. (21/11/07)
Hoje, pleno céu de noites claras,
Há vagar de nuvens e sons de vento.
Há tormentas e trovões, imponentes.
Caminho sozinho, mas alguém está comigo?
(De longe, muito longe,
Suspenso em trapézio vigoroso,
mãos amarradas nas cordas do fantoche.)
No caminho ainda há flores, como pecados,
Florescendo pelos cantos mais distantes.
Cantando dores e sucessos, o andarilho indigesto
Apodrece aos pés do criador.
Pelos céus, em evolução, uma lua sem platéia
Esgueira-se, breve pelas horas, cheia pelo tempo.
E vagando, de que vale a visão?
De que vale o Norte, se pro Sul nunca caminhei,
De que adianta a rota certa, se do destino nada sei?
Creio no divino, não na divindade,
Apoio meus pés na bruma,
Encho meu copo de espuma e
Alegro os surdos sem sentidos,
Enxergo a luz pelos vidros.
Distraio-me sem certeza, pelos sons da natureza,
Voz de Deus? Canto louco de seres sem sentença,
Que gritam ofensas sem veneno,
E pairam, alegres, no sereno,
Entes pequenos, filhos de deus.
Fazei de mim um dos teus,
Cego com olhos, morto com vida,
Ainda ladrão das eternas margaridas
Que enfeitam o rincão.
Fazei de mim em prece,
Lascivo, agreste, burro xucro sem finesse,
Incrédulo, morador da dura tese
Do inútil servidor.
Lançai em mim a falseta,
Essa que só cresce pelo verbo mentiroso
Desses filhos tão chegados, salvos,
Sentados ao lado da cadeira onde senta, assassinado,
O Rei dos Reis.
Noites plenas, vigílias, sacrifícios,
A mão da justiça
Atada os pés do crucifixo.
Há um caminho
E por ele, no rastro do padrasto,
Tomo rumo
Pequenino.
Colhendo alma inexistente
Que derrubei
Do raivoso coração.
(J.)

domingo, junho 07, 2009

Saindo da casca e vendo a face da Lua.

há nesse mundo um deus que veste negro, que esconde nas frestas e buracos tanto fato, tanto segredo que chega a dar medo quando a gente anda pela rua com os olhos nas costas, acelerando a mente no passo louco da nossa corrida. há gente e com eles, seus tantos sonhos, corridos pelas paredes como tinta. revistos, reescritos e re-sonhados, na fantasia louca de que chegaremos a um ponto final. há um segredo que é negro prá qualquer deus, desses que andam na parte traseira de si mesmos, tentando mudar de lugar, brigar com o irmão pelo lugar na janela. e perdem a paisagem mutante que pulsa nas telas dos nossos dias solitários. há um animal preso em cada alma, com os pés fixos em latas de cimento, desvencilhando-se na fúria, pois a música continua a tocar sempre, mesmo quando cada deus ou mesmo homem já esteja completamente surdo, ouvindo, insistente e desconhecidamente, a sua própria voz. e arrastando o peso de si mesmo, esquece que a mais livre ave ainda permanece bela mesmo sem as asas e que o melhor da vida é voar na impossibilidade ou flutuar pela sanidade para estacar, como um prego sob o jugo do martelo. valha-me, que ainda hoje, amanhã chega e daí que você ainda é o mesmo rosto na multidão? Faz frio pelos lados da morte, sabe? E ainda há deus, companheiro de alcova, prá te salvar de si mesmo quando o cobertor virar pele e o mendigo, andando nu, estiver mais elegante que você.
(Shadow.)
07/06/09

quinta-feira, junho 04, 2009

Sonegando um Soneto no frio Café


Brandura

As lágrimas por ti são doces... 
É que nesse choro de amor 
Eu quero rimar a minha bravura 
Com o teu sorriso de brandura. 
E que, a cada uma que role, 
Uma nova explosão de cores
Inevitável se desenrole 
No meu peito sem amores; 
Porque amar é colher erva-daninha 
E dispensar cegamente as flores 
Que são como tuas mãos abertas 
Espalmadas nesse vasto coração 
Já tão solitário e afeito às dores 
Que tantas dádivas liberta...

(19/V/2009)
foto: flor do meu jardim.

sábado, maio 02, 2009

Quod me nutrit me destruit...


É noite,
Solitária e fria em que flutuo 
Aturdido no encalço da lua.
Me acabo
Nas partes leves da pedra.
Me deito
Nas camas sujas de verve.
Me espanto com a dura
Textura da teia.
Me liberto
Nas cores ávidas
Em sangue e abraço
De ásperas solidões.
Afogo meu espírito
os fundos meneios
Das altas nuvens
Daquela chuva,
A mesma que não cessa,
Aquela mesma que te molha
A que, mesmo ali, não ama.
Empoço, nu, minha alma
Na palma da mão da morte.
Risonho, danço pequeno
E causo assombro nos olhos
Dos olhos que quero ver.
Seus medos distantes
Pairando nas serras
De uns sonhos astrais.
No subúrbio dos ventos
A seiva dos sonos
Escorre nos membros
Dos monstros viris.
E a luz acaba
No ponto puro e
Cego
Do coração.

(S.)

quinta-feira, abril 30, 2009

Pontes imaginárias de bolso

Uma ponte de vícios me leva ao fundo do poço que eu já conheço. E andando nela, eu sinto como se o tempo Marcasse a data do encontro, me julgando como um que vai passar e não deixar rastro de sombra. Será que isso acontece no fundo de cada um, como uma mostra de que, verdadeiramente, somos todos iguais, em tamanho, cor e credo? Ou é só um jeito de dizer prá continuarmos, pois disso somos feitos: caminhos. E se você pára, abaixo, só há o rio. Negro e caudaloso como um espelho embaçado de banheiro, que te encontra quando adentras a porta e te assusta os olhos ao ver teus olhos assustados...
Há a sombra do sol, sim. Porque eternidade só é entendida por aquilo que é realmente eterno. Nada de amores, pois o peso impede uma corrida necessária, alguns livros e a semente que, se jogada à terra boa, há de germinar. E enquanto caminho, penso nele, no tal do Amor, como um objetivo simples, cama quente em noite de cansaço, em que se espreme o homem, para que brote a seiva de outros. E dessa seiva, novos escravos, ávidos pela novidade de grilhões dourados, de orgulho e autocomiseração. A paz é o amor calmo, daqueles que te fazem crer que nos livros Há mais verdade que as que você conta e que, no escuro, há mais espírito que em nós. O passo hesita, recua, Na treva de si mesmo, trôpego, inábil, duro. Tateando sempre, cego por manter os olhos híspidos, tão espertos, Tão experientes no enxergar o óbvio, abertos. Na busca por aquilo que mora dentro de nós... Nas escuras sendas O mal se alimenta Daquilo que a mente, faminta, Regateia e vende pelo preço de um ouro raro, pedra de luz. Ainda assim, Planto nos solos tantas ilusões, Rego com o sal da terra E o punhado de lágrimas, Avessas à razão, que farão falta (Posto que chorar já não consigo) Soltas assim tão cedo frente àquelas Que teremos todos que derramar, E que não haverá como recuperar, Pois do que somos É só o chorume que vai ficar Quando você parar Na entrada dos teus sonhos De paraíso. E lá, no profundo tédio de descobrir Semelhanças, Vai se arrepender de ser tão Lento.

sábado, fevereiro 14, 2009

Estadias na sombra (um piscar de olhos)

Atrás da árvore ancestral, Eu me escondo, À espreitar O tempo! E enquanto decoro o caminho das estrelas Enxugo as lágrimas de luz que elas me dão. Observo, imóvel o mundo, a girar. Nos meus olhos, Os planetas sem direção. A mão serena da calma Ilude A alma inebriada, solitária, que sangra, trêmula, o seu peso. Saio sempre à noite, sorrateiro Pelos campos de cristal escuro, Viajante de um dia. E quando canso, há outra árvore. Impávida, imortal como o ar, Impondo à caminhada Uma estadia na sombra. Toda a escuridão só existe Pois nasce cercada da mais pura Claridade. Assim são meus passos, Hesitantes como a noite Que sôfrega, acalenta o dia. Assim sou eu, sempre tão imperfeito. Mas caminhar por qualquer sorriso Qualquer carícia, carinho É o bálsamo Caudalosamente Sorvido pela minha sede. E dali, hei de partir no vento Hei de superar distância Pelo refúgio da clara presença Da minha insana paz!